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"Porta do inferno" na Sibéria cresce em ritmo assustador

16 de maio de 2024

Nova pesquisa revela a velocidade alarmante com que a enorme cratera Batagaika consome a superfície terrestre, após derretimento do permafrost. Fenômeno libera toneladas de carbono na atmosfera todos os anos.

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Vista aérea da cratera Batagaika, na Sibéria
Localizado na República de Sakha, na região oriental da Rússia, cratera de um quilômetro de extensão foi descoberta em 1991Foto: picture-alliance/AP Photo/North-Eastern Federal University

Uma colaboração internacional de cientistas alemães e russos revelou que a misteriosa cratera de Batagaika, na Sibéria, popularmente conhecida como "porta do inferno", se expande em ritmo alarmante de até um milhão de metros cúbicos por ano devido ao derretimento do permafrost.

Localizado na remota República de Sakha, na região oriental da Rússia, o fenômeno natural de um quilômetro de extensão foi descoberto em 1991 por meio de imagens de satélite, após o colapso de uma encosta nas terras altas de Yana, ao norte de Yakutia.

O fenômeno removeu a cobertura de permafrost – uma camada de gelo, rocha e sedimentos – que permaneceu congelado por 650 mil. É o mais antigo permafrost da Sibéria e o segundo mais antigo do mundo, de acordo com o portal científico Live Science.

Impacto das mudanças climáticas

O Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) explica que esses sumidouros geralmente ocorrem quando a rocha subterrânea, composta de calcário, carbonato e outros sais solúveis, se dissolvem em água. 

Essa cratera, ou, segundo o termo técnico, uma depressão termocárstica, é um sinal claro do impacto das mudanças climáticas, já que o aumento das temperaturas derrete o "cimento gelado" que mantêm a solidez da terra, debilitando sua estrutura. 

À medida em que a terra mais congelada expulsa o calor, o tamanho da cratera aumenta de maneira significativa.

Pesquisadores da Universidade Estatal de Lomosonov, em Moscou, e do Instituto Melnikov para o Permafrost, em colaboração com cientistas alemães, utilizaram um modelo geológico em 3D e determinaram que a parede da encosta está retrocedendo cerca de 12 metros por ano, enquanto a seção colapsada, que atualmente atinge 55 metros abaixo da borda, também derrete rapidamente.

Segundo o estudo publicado no jornal científico Geomorphology, a cratera cresceu 200 metros desde 2014, chegando a uma largura de 990 metros. Embora os cientistas já soubessem que a abertura estava se expandindo, esta foi a primeira vez em que foi possível quantificar o volume de gelo em derretimento.

Motivos para preocupação

Apesar de a Batagaika estar distante de qualquer grande cidade russa, sua rápida expansão é um indicador crítico do aquecimento do permafrost subjacente, segundo relata o portal Interesting Engineering.

O permafrost, que são os solos permanentemente congelados por mais de dois anos, cobrem vastas regiões do Hemisfério Norte. O degelo dessas camadas não provoca apenas os sumidouros, mas também reduz a vegetação que protege do calor solar, acelerando o aquecimento do solo.  

Ao se descongelar, a matéria orgânica aprisionada no permafrost se decompõe, liberando dióxido de carbono na atmosfera, o que contribui para o aquecimento global. O degelo da Batagaika libera cerca de 5 mil toneladas de carbono a cada ano. Desde a década de 1970 até 2023, calcula-se que apenas essa cratera tenha liberado 169,5 mil toneladas de carbono orgânico, afirmam os pesquisadores.

Ainda mais alarmante é o fato de que o sumidouro pode potencialmente liberar na atmosfera antigos micróbios perigosos, para os quais não estamos preparados. A descoberta reforça a urgência de compreendermos e mitigarmos os efeitos das mudanças climáticas em nosso fragilizado ecossistema global.

rc/le (DW)